Perfil lipídico: teste rápido para rastreamento e acompanhamento do risco cardiovascular

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O exame perfil lipídico é a quantificação de diferentes frações lipídicas no sangue do indivíduo: colesterol total, HDL-C, LDL-C, Não-HDL-C e triglicerídeos. O resultado de quantificação destas frações é expresso em mg/dL ou mmol/L.

Conforme o resultado do perfil lipídico, diferentes tipos de dislipidemias podem ser identificadas. As mais conhecidas são a hipertrigliceridemia e a hipercolesterolemia.

Hipertrigliceridemia

Definição

Quadro laboratorial do perfil lipídico caracterizado por níveis de triglicerídeos (TG) acima dos valores de referência estabelecidos, conforme a idade e considerando demais condições de saúde apresentadas. Pode ser primária (caracterizado por fator genético importante, como hipertrigliceridemia familiar ou demais distúrbios metabólicos hereditários) ou secundária (decorrente de obesidade, evolução de diabetes mellitus, infecção por HIV, hepatopatias, entre outras).

Manifestações clínicas

Este é um problema de saúde normalmente assintomático, portanto, os sintomas surgem apenas quando outros sistemas são acometidos, a exemplo do sistema cardiovascular.

Evidências clínicas destacadas na anamnese e exame físico incluem história familiar e predisposição genética, além da existência de fatores de risco como sobrepeso/obesidade, diabetes, doença arterial coronariana, angina, pancreatite, lipemia retiniana e xantoma eruptivo (pápulas amareladas em meio a base eritematosa, predominante nas nádegas, cotovelos e em outras áreas sensíveis à pressão). 

Faixa etária e grupos de risco

A hipertrigliceridemia apresenta prevalência universal, sendo o fator genético e a existência de determinadas condições clínicas associadas, como obesidade e diabetes, elementos altamente relacionados com a ocorrência do quadro.

Os fatores de risco mais relevantes são:

  • histórico familiar da doença,
  • obesidade e sobrepeso, especialmente se associado a sedentarismo,
  • dieta rica em gordura saturada e/ou de alto teor de carboidratos,
  • resistência insulínica (podendo levar a redução do clearence de TG e superprodução de TG proveniente de adipócitos),
  • hepatopatia (decorrente de quadros agudos, como hepatite esteatótica não alcoólica),
  • hipotireoidismo (que pode desenvolver o quadro em questão, porém, mais propenso a resultar em hipercolesterolemia),
  • nefropatia (como síndrome nefrótica e quadros que requerem diálise),
  • consumo excessivo de álcool (que pode estimular a produção de TG),
  • infecção pelo HIV (agentes antirretrovirais podem prejudicar a metabolização e/ou estimular a produção de triglicerídeos), e
  • fibrose cística (resultantes de insuficiência pancreática, estado inflamatório, corticoterapia, entre outros).

Prevenção

A estratégia de prevenção primária baseia-se na adoção de estilo de vida que inclui prática regular de atividade física e dieta balanceada, com redução do teor de carboidratos e baixa ingestão de alimentos ricos em gorduras.

A prevenção secundária, visa não apenas a manutenção das ações praticadas na prevenção primária, mas está centrada em ações de rastreamento e diagnóstico precoce.

Rastreamento

Considerado um fator de risco estabelecido para doenças vasculares, o rastreamento da dislipidemia se dá através da realização periódica de exame de sangue para determinação do perfil lipídico. No caso de pacientes com diabetes na infância ou histórico familiar positivo para o quadro, recomenda-se iniciar o rastreamento antes dos 20 anos de idade.

Diagnóstico

O diagnóstico clínico considera anamnese, exame físico completo e análise da história pregressa do indivíduo.

O diagnóstico laboratorial consiste na dosagem sanguínea dos níveis de TG. O jejum é fundamental para a melhor eficiência analítica e confiabilidade de resultados esperados.

Os valores de referência preconizados em consenso brasileiro para normatização da determinação laboratorial de perfil lipídico são:

  • 0 a 9 anos – Em jejum: <75 mg/dL); sem jejum: <85 mg/dL;
  • 10 a 19 anos – Em jejum: <90 mg/dL); sem jejum: <100mg/dL;
  • ≥20 anos – Em jejum: < 150 mg/dL; sem jejum: <175 mg/L.

Em casos onde a fração apresenta valores acima de 440 mg/dL, faz-se necessária a realização de jejum absoluto de 12h para coleta de nova amostra a ser testada.

Outros exames podem ser necessários a fim de garantir diagnóstico diferencial, como dosagem de hormônio estimulante da tireoide (TSH), glicemia de jejum, ureia e creatinina, albumina sérica, testes de função hepática eletroforese de proteínas séricas e tomografia computadorizada do abdome.

A realização de teste rápido com metodologia fotométrica, para quantificação das principais frações lipídicas (TG, HDL-C, LDL-C, Colesterol Total), apresentam resultados em apenas alguns segundos e proporcionam maior assertividade e segurança para o profissional da saúde orientar e/ou encaminhar o paciente oportunamente.

A facilidade de acesso ao estabelecimento, coleta de amostra, curto tempo para emissão do resultado e a alta confiabilidade, faz do teste rápido uma opção altamente vantajosa para o indivíduo que busca atendimento em saúde de qualidade e segurança.

Tratamento e orientações

O tratamento não medicamentoso primariamente recomendado consiste na reeducação alimentar e na mudanças no hábito de vida, além da prática de atividade física regular, da cessação tabágica e da redução do consumo excessivo de bebidas alcoólicas, visando não apenas reduzir riscos para complicações futuras (escore de risco global), como também, reduzir os estímulos que favorecem a situação da doença atual.

O tratamento medicamentoso é centrado na administração de derivados do fibratos (como o fenofibrato e genfibrozila).

Se paciente com doença cardiovascular aterosclerótica tiver idade inferior a 75 anos e outras condições que predizem alteração dos níveis de frações lipídicas, o tratamento de escolha consiste na administração de estatina de alta potência (ex.: atorvastatina), associada a mudança de estilo de vida. A mesma condição clínica em paciente com mais de 75 anos requer tratamento com estatina de potência moderada.

No caso de pacientes com hipertrigliceridemia acima de 500 mg/dL apresentando quadro de quilomicronemia somática acompanhada de dor abdominal e/ou pancreatite, a via oral não é considerada para administração medicamentosa e é necessária a hidratação com fluidoterapia intravenosa.

Em pacientes diabéticos, a insulinoterapia não é suficiente para reduzir a níveis normais o TG, de modo que o uso de tal terapia é recomendado quando houver confirmação de pancreatite e/ou se TG>2000 mg/dL. Demais pacientes com valores exacerbados são primariamente tratados com fibratos.

Acompanhamento

É importante que o monitoramento do perfil lipídico seja feito de modo regular e os níveis de TG devem ser verificados a cada 6 semanas até cumprimento da meta terapêutica estabelecida junto do prescritor e, após estabilização, o paciente deve ser reavaliado a cada 6 meses.

Hipercolesterolemia

Definição

Definida pelo aumento de colesterol total (CT) em níveis além dos tidos como de referência para um indivíduo saudável. A hipercolesterolemia está intimamente ligada a fatores genéticos, sendo o quadro de hipercolesterolemia familiar (HF), essencialmente descrito como doença genética do metabolismo lipoproteico, gerando grande elevação dos níveis de LDL-C com sintomatologia específica.

Manifestações clínicas

As manifestações clínicas características em casos de HF são xantomas e xantelasmas tendíneos (lesões cutâneas derivadas de alterações lipídicas predominantemente localizada nos tendões), arco corneano (parcial ou total) e risco aumentado de doença arterial coronariana prematura.

Pacientes com hipercolesterolemia persistente, após longos períodos sem tratamento, passam a apresentar comorbidades cardiovasculares graves, incluindo desde eventos comuns em doenças arteriais coronarianas, como infartos derivados de oclusões por ateromas até condições complexas de acometimento sistêmico. A ocorrência de acidente vascular cerebral (AVC) e hipertensão arterial sistêmica (HAS), bem como o acometimento de outros órgãos e sistemas do organismo também podem ocorrer.

O sobrepeso e/ou obesidade e o aumento dos níveis de colesterol são diretamente proporcionais, não sendo raro que o paciente também é diabético. O não tratamento destas condições pode evoluir para quadros clássicos, caracterizados pelo comprometimento vascular que acomete extremidades, especialmente membros inferiores, que é potencializado pela fisiopatologia do diabetes, por exemplo. Estas complicações vasculares podem evoluir para gangrena e necrose do tecido, além de aumentar o risco de infecções.

Faixa etária e grupos de risco

A suscetibilidade à hipercolesterolemia é universal, uma vez que indivíduos sem histórico familiar pregresso e sem predisposição genética podem apresentar a condição. Hábitos de vida são grandes moduladores do desenvolvimento da hipercolesterolemia.

Diabetes, tabagismo, hipertensão e obesidade são fatores que incluem os pacientes no grupo de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Prevenção

A prevenção se dá por meio da promoção e adoção de hábitos de vida saudáveis, como dieta alimentar com baixa ingestão de gorduras e carboidratos, prática de atividade física regular evitando o sedentarismo, cessação tabágica e promoção da redução do consumo excessivo de álcool. Portanto, um adequado monitoramento dos níveis das frações lipídicas é uma eficaz medida de prevenção secundária.

Rastreamento

O rastreamento é recomendado em todas as pessoas acima dos 10 anos de idade, através da determinação do perfil lipídico pelo menos a cada 3 anos. Assim, o perfil lipídico é o principal exame indicado.

Diagnóstico

O diagnóstico clínico consiste em anamnese, exame físico completo e análise da histórica clínica do paciente.

O diagnóstico laboratorial é centrado na realização de exame de sangue, a fim de verificar quantitativamente o teor de frações lipídicas. A hipercolesterolemia se faz presente em casos onde os níveis de colesterol se encontram acima dos valores de referência estabelecidos em protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas nacionais. São eles:

  • Para crianças e adolescentes (0 a 19 anos):
    • Colesterol total – Desejável: <170 mg/dL (com ou sem jejum); valores >230 mg/dL são potencialmente indicativos de HF;
    • HDL-C: >45 mg/dL (com ou sem jejum);
    • LDL-C: <110 mg/dL (com ou sem jejum);
  • Para adultos (acima de 20 anos):
    • Colesterol total – Desejável: <190 mg/dL (com ou sem jejum); valores >310 mg/dL são potencialmente indicativos de HF;
    • HDL-C – Desejável: >40 mg/dL (com ou sem jejum);
    • LDL-C – Variável de acordo com o risco cardiovascular apresentado pelo indivíduo, varia de <50 mg/dL para risco muito alto, até valores <130 mg/dL para baixo risco).

A fração Não-HDL-C também respeita o raciocínio aplicado para o LDL-C, assim variando de <80 mg/dL para risco muito alto, até valores <160 mg/dL para baixo risco. Esta fração é obtida pela subtração do valor obtido para a fração de LDL-C diante do colesterol total quantificado. Os níveis desejáveis tanto da fração LDL-C, quanto da Não-HDL-C são inversamente proporcionais à categoria de risco cardiovascular apresentada.

A realização de teste rápido com metodologia fotométrica para quantificação das principais frações lipídicas (TG, HDL-C, LDL-C, CT), ao permitir a leitura do resultado da amostra coletada em poucos minutos, fornece mais assertividade e segurança para o profissional da saúde orientar e/ou encaminhar o paciente da melhor maneira possível.

A facilidade de acesso ao estabelecimento, coleta de amostra, curto tempo para emissão do resultado e a alta confiabilidade, faz do teste rápido uma opção altamente vantajosa para o indivíduo que busca atendimento em saúde de qualidade e segurança.

Tratamento e orientações

A terapia não farmacológica é o método de controle indicado independentemente do grau de risco do indivíduo, pois se baseia na mudança dos hábitos de vida como adoção de práticas e atividades físicas regulares, reeducação alimentar para dieta balanceada e com pobre ingestão de gorduras, carboidratos e açúcares, cessação tabágica, além de redução do consumo de bebidas alcoólicas.

O tratamento medicamentoso é centrado na administração de diferentes classes de drogas hipocolesterolemiantes, como as estatinas, que são as drogas mais frequentemente recomendadas. Podem ser prescritos, também, em associação ou não com as estatinas, sequestradores de ácidos biliares, niacina e fibratos.

Acompanhamento

O acompanhamento dos casos confirmados de hipercolesterolemia deve ser realizado com periodicidade mínima de 6 meses, a depender do prognóstico clínico. Os níveis de colesterol podem ser alterados ao longo do tempo e chegam variar até 10% de um mês para o outro.

Deste modo, vale ressaltar a necessidade do acompanhamento do paciente com hipercolesterolemia visando avaliar a eficácia do tratamento empregado e análise frente aos riscos e possíveis complicações.

Exames complementares como dosagem das demais frações lipídicas, glicemia, testes de função hepática (órgão responsável pela biossíntese do colesterol), entre outros, podem ser realizados.

Outros parâmetros

No contexto das doenças cardiovasculares, alguns testes e parâmetros auxiliam a avaliação do risco cardiovascular e da saúde do paciente além do perfil lipídico. Abaixo temos alguns exemplos relevantes:

Gordura visceral/abdominal

O aumento da gordura localizada na região abdominal é indicativo do comprometimento de órgãos viscerais, como por exemplo, fígado, intestino e pâncreas, pela presença de tecido adiposo, quadro denominado esteatose. A camada lipídica que passa a existir é responsável por promover degeneração gradual do tecido orgânico subjacente, alterando a funcionalidade de células parenquimatosas que passam a originar vacúolos decorrentes de desequilíbrios na síntese, utilização ou mobilização do tecido.

Dentre as principais características macroscópicas para a condição, verifica-se o aumento de volume do órgão com redução da consistência, redução da temperatura e coloração ictérica. Além disso, no órgão cardíaco, os músculos papilares são afetados.

A evidenciação de esteatose por meio da presença de gordura visceral está relacionada ao maior risco de ocorrência de eventos cardiovasculares fatais, síndromes metabólicas, hipertensão arterial sistêmica, hiperglicemia, entre outras condições endócrinas.

Escore de risco global (ERG)

O escore de risco global é uma ferramenta calculadora na qual, a partir da positividade ou não de diferentes fatores de risco em diferentes perfis populacionais, associado aos valores obtidos em análise de perfil lipídico, é possível metrificar o risco para ocorrência de eventos cardiovasculares ao qual determinado paciente está exposto. A pontuação final é relevante como forma de melhor avaliar a evolução do quadro cardiovascular do paciente e, assim, permite ao profissional competente não apenas definir o prognóstico clínico, mas também, escolher o esquema terapêutico mais adequado a ser prescrito.

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